Comecei este texto no dia em que
te perdi. Não, espera! Vamos mudar isto… No dia em que tu me perdeste a mim! Porque no fundo, pensando bem… eu já te tinha perdido há muito tempo a ti…
Como estava a dizer, decidi
escrever este texto no dia em que tu me perdeste! (Ainda não me soa bem isto, acreditas? Acho que me vou demorar a habituar !!! )
Continuando... Nesse dia acordei tarde,
chovia muito e não tinha planos. Ia ficar por casa a ver tv enrolada na manta
da preguiça. Sozinha. Já me estava a habituar a ficar sozinha… Sabes? Aquela
treta do sexto sentido das mulheres, afinal, não é assim tão treta… É lixado pá! O
pressentimento, aquele feeling mal-encarado, estava lá. Eu só não o queria ver
nem ouvir e muito menos sentir mas ele estava lá. Como está quase sempre. É
raro o sacana me abandonar assim, mesmo quando o tento ignorar
sistematicamente.
Nesse dia já não contava com nada
teu. Sabia que as coisas estavam mal, por um fio ou melhor, um fiozinho,
daqueles fininhos e transparentes… Sabia há vários dias, aliás há muitos dias. Mas
eu gostava (e gosto) tanto de ti, porra! E as lembranças que temos juntos? E as fotos em
que sempre mostrámos ser os mais felizes? E a nossa cumplicidade de um só
olhar? E as nossas gargalhadas em uníssono? E a sms de bom dia que eu recebia sempre ao chegar ao trabalho? Tal como o
hábito do teu “ boa noite” me fazer sempre dormir mais feliz…
E as pessoas que acreditavam em nós e no nosso final feliz? O que é isto em que nos tornámos?
Quem és tu a partir deste dia? E quem vou ser eu? Nunca mais os mesmos, suponho.
Fomos tão cruéis um com o outro. Como chegámos a este ponto? Não me canso de
perguntar a mim própria.
Em mim, desde essa tarde, ficaram muitas coisas para serem
ditas e um nó no peito que teima em não se desfazer. Um nó que
não se move e carrega com ele uma tristeza enorme mas que eu nunca me admito a
transparecer. Certamente também o sentiste! Algo que se chama angustia… uma sensação
horrível de ver que tudo o que construímos juntos ficou a partir deste dia
feito em nada.
Tento muitas vezes adivinhar em como estarás tu agora. Talvez não tão sentido quanto eu, mas também triste. Tenho a certeza, ainda te conheço um bocadinho. Sei que me vais mandar para trás
das costas, tentar esquecer-me porque dá demasiado trabalho discutir e tentar
levantar um castelo que perdeu todos alicerces.
Nunca foste bom para grandes
construções nem planos… nem para nada que desse muito trabalho! Para essas
coisas estava cá eu.
Ainda aguentei tanto tempo a segurar os nossos dois
mundos juntos mesmo que na ponta do dedo. Tens coisas boas, sabias? És simpático,
educado, bonito, companheiro, integro, bom falante e talvez a pessoa mais
inteligente que eu conheci até hoje… Mas lutar, batalhar e correr atrás das
coisas que queres, não era de todo o teu forte… Mais uma vez, para isso estava
cá eu.
E agora? Agora que eu desisti de lutar por nós como é que vai ser?!
Quando liguei às minhas amigas a
contar que tinhas ido embora para sempre, elas questionaram “Para sempre? Mas
como sabes que é para sempre?” Não sei, é verdade. Mas sinto… Sinto que foi
para sempre e sinceramente, apesar de assim entrar em constante contradição, se
for para ser como foi nestes últimos tempos, apesar de te querer muito para mim e
ao pé de mim, não aguentaria ter-te mais aqui.
Algumas usaram frases feitas, do tipo “ deixa ir,
se for mesmo teu, voltará” , outra chutaram um “Há algo melhor reservado para
ti, aposto!” Ainda houve uma mais arisca que se atreveu a um “ o problema de
certeza que não és tu, amiga! Aposto que o mal é dele” ...
E as outras, talvez as
que melhor me conhecem, pediram-me calma… calma na alma, porque só assim se
pode voltar a viver mesmo quando parece que nunca mais vamos sentir o nosso
mundo mexer.